Do blog de Benedito Buzar

Roseana Sarney]O carnaval de São Luis até a década de 1960 dividia-se em brincadeiras de rua e de salão.

No carnaval de rua, malady prevaleciam as manifestações populares em suas diversas atrações: corsos, there blocos, sale batucadas, mascarados e fofões.

O carnaval de salão primava pelos bailes nos clubes de primeira e de segunda. Os de primeira realizavam-se no Jaguarema, Lítero Recreativo Português, Cassino Maranhense e Clube dos Sargentos, bem como nas residências particulares – os chamados assaltos. Os de segunda, também denominados bailes de máscaras, faziam grande sucesso na cidade e organizados para atender uma clientela masculina, que buscava programas com mulheres descompromissadas.

Os clubes sociais, freqüentados por associados e convidados da alta e média sociedade, organizavam festas carnavalescas que começavam no réveillon e terminavam no chamado tríduo momesco.

A essas festas carnavalescas, não faltavam os representantes dos setores da iniciativa privada e membros dos poderes públicos.  Aos governadores e prefeitos os clubes destinavam mesas especiais, colocadas em lugares privilegiados. Na chegada deles, a orquestra executava o hino estadual e os foliões paravam de cantar, pular e dançar.

Da redemocratização do país aos dias de hoje, poucos foram os governadores que deixaram de comparecer às festas carnavalescas. Os dois primeiros, Sebastião Archer da Silva e Eugênio Barros parece que não tinham muita afinidade com o Rei Momo.

Tudo leva a crer que foi no governo de Matos Carvalho (1956-1960) que o poder público estadual passou a marcar presença na folia de São Luis. Tudo começou com um grupo de mulheres da alta sociedade – ressaltando-se a primeira dama, Ada Carvalho, que, com a colaboração dos principais clubes sociais, promoveu uma deslumbrante festa carnavalesca no Teatro Artur Azevedo, especialmente decorado por Iêdo Saldanha. A renda do evento destinou-se às obras sociais. O acesso exigia que as mulheres se apresentassem com fantasias finas e os homens com traje a rigor.

O governador Newton Bello também gostava de carnaval. Mas não costumava freqüentar os bailes dos clubes Jaguarema, Lítero e Cassino Maranhense. Geralmente, reservava a noite de terça-feira para comparecer ao Clube dos Sargentos, no bairro do João Paulo, onde, em companhia do secretariado, esbaldava-se até a madrugada de quarta-feira.

Quando José Sarney e Antônio Dino se elegeram governador e vice (1966 a 1970), o Jaguarema passou a ser o clube oficial. Sarney e Dino chegavam ao clube juntos e com os familiares. O vice-governador chamava a atenção dos foliões pelo uso de um chapelão.

Mas foi o sucessor de Sarney, o professor Pedro Neiva que, apesar da idade avançada, marcou época no carnaval. Ele, ao lado da esposa Eney, do filho Jayme e da nora Alberlila, dificilmente perdia um baile de carnaval no Jaguarema. Embora não dançasse, passava a noite fazendo o que gostava: conversar.

Os governadores que vieram a seguir, Nunes Freire, João Castelo e Luiz Rocha, apenas Castelo gostava de carnaval, por isso, na temporada momesca, dividia-se entre São Luis e Caxias, sua terra natal.

Ivar Saldanha, substituto de Castelo, não era de freqüentar clube social. Adorava as brincadeiras de rua, onde se juntava aos batuqueiros e sambistas. Servia-se de surrado boné para saudar os foliões que o identificavam.

Mas foi o sucessor de Luiz Rocha, o governador Epitácio Cafeteira, que deixou o seu nome indelevelmente marcado no carnaval de São Luis. Não por ter feito algo de positivo. Ao contrário, acabou sendo o responsável direto pelo fim do carnaval popular e dos bailes de máscaras.

Cafeteira perpetrou esse golpe contra o carnaval ao no exercício do cargo de prefeito da capital maranhense. Surpreendentemente, no dia 2 de janeiro de 1966, os jornais da cidade chegaram às ruas com uma notícia absurda e insensata: um decreto do prefeito proibia taxativamente a realização de bailes populares, bem como o uso de máscaras nas festas carnavalescas. Justificativa: o uso de máscaras nos clubes carnavalescos contribuía para o aumento da prostituição e da imoralidade pública.

A repercussão do decreto foi imediata. Enquanto a maioria da população criticava a atitude do gestor, considerando-a demagógica, parte restrita da sociedade, especialmente o clero, apoiava. Os donos dos bailes, inconformados com os inerentes prejuízos, entraram com recursos na Justiça para tornar sem efeito o decreto da municipalidade.

O vice-governador Antônio Dino e o deputado Clodomir Millet usaram as emissoras de rádio e televisão para condenar o ato do prefeito e exigir que o governo do Estado agisse imediatamente para reabrir os bailes populares. Nesse sentido, o coronel Antônio Medeiros, secretário de Segurança, avoca a competência quanto ao disciplinamento das brincadeiras carnavalescas, por isso, autoriza o funcionamento imediato dos bailes de máscaras.

Cafeteira desconhece o ato do secretário de Segurança, indo bater às portas da Justiça para anulá-lo.  Com a cidade em pé de guerra, o governador Sarney pede ao coronel Alberto Braga para a Guarnição federal instaurar Inquérito Policial Militar para conter as atitudes do prefeito, que visavam promover a intranqüilidade social.

Para não entrar na briga, a Justiça só meses depois se pronuncia sobre o polêmico assunto, fato que fez a população não brincar o carnaval e ainda assistir a eutanásia dos bailes de máscaras.

Depois dessa desastrosa ação de Cafeteira, o carnaval de São Luis ingressou numa completa decadência. Sem os bailes populares, as brincadeiras de rua sumiram e as festas nos clubes sociais perderam o encanto e a animação.

Só depois que Roseana Sarney elegeu-se governadora (1995-1999), sendo ela uma fanática foliona, o carnaval de São Luis voltou a dar sinal de vida. Para isso, investiu recursos, convocou os artistas e elaborou uma programação para reanimar o povo e fazê-lo participar dos eventos em homenagem a Momo.

*Benedito Buzar nasceu em Itapecuru Mirim. Jornalista, advogado, escritor, professor universitário (aposentado). Ex-deputado estadual. Ocupou cargos no setor público, dentre os quais, chefe de gabinete e secretário municipal de Educação e Ação Comunitária, presidente da Maratur, presidente do Sioge, secretário da Cultura do Maranhão, presidente do Conselho Estadual de Cultura, membro do Conselho Universitário da Universidade Federal do Maranhão, gerente da Gerência de Desenvolvimento Regional de Itapecuru Mirim. Membro da Academia Maranhense de Letras, da qual é o atual presidente. Publicou vários livros.