joaquimPor Joaquim Haickel

Semanas atrás publiquei aqui um texto no qual falava sobre a verdade na política. Nele discorria, generic por um lado, patient sobre a importância da verdade e por outro sobre a necessidade que alguns políticos têm denegá-la.

O tema verdade será uma constante quando se falar de filosofia, religião ou política, pois a verdade é propriedade do sujeito que a constrói com ação ou com palavras. Ela pertence a ele. Toda vez que ele a profere, a todos ela deve contaminar.

Sendo a verdade objeto de quem detém o discurso, como fazer para descobrirmos qual verdade é a real?

Acredito que haja três possibilidades de analisarmos isso:

1) Quando acreditamos na tese de alguém. Quando temos um discurso como verdadeiro, ele passa a ser nosso e aquilo vira uma verdade para nós.

2) Quando discordamos de uma tese, de um discurso ele passa a ser falso e quase sempre nosso cérebro nos dá uma alternativa para aqueles posicionamentos.

3) Em matéria de política, quando se analisa com profundidade a tese contida num discurso, quando se observa as circunstâncias nas quais ele é proferido, analisam-se suas intenções, seus objetivos, e ponderam-se suas consequências, se chega à conclusão de que quase tudo é possível. Só não deveria ser possível o que fosse moral e eticamente incorretos, mas até nesse ponto, quanto à qualidade moral e ética da verdade, também será uma questão de opinião, mesmo que haja um padrão para isso.

Feito esse preâmbulo, entremos no assunto específico de hoje.

Parece que a maioria dos personagens da atual cena política maranhense só sabe conjugar os verbos na primeira pessoa do singular.

Nem eu, mesmo não sendo personagem principal, posso me excluir dessa lista. Muitas vezes me pego pensando nas ações, nas palavras que as exprimem, nos verbos, a partir da conjugação verbal na primeira pessoa do singular. Luto muito contra isso, mas a natureza humana é mais forte e nem sempre consigo me libertar, não consigo conjugar os verbos na segunda ou na terceira pessoas do singular, ou mesmo do plural. Quando muito o faço na primeira pessoa do plural, o que é menos pior (atenção patrulheiros, usei menos pior porque quis. Não quis usar “melhor” para enfatizar o fato de ser pior, porém menos).

Vamos aos fatos concretos. Quase todos os políticos estão pensando unicamente em si. No seu eu. Até aqueles que não estão pensando unicamente em si estão pensando em si de forma indireta. Mas como já disse essa é uma condição humana e não pode ser incluída na lista de nossos pecados ou defeitos mais graves.

Em minha opinião, Roseana, por incrível que pareça, é um dos pouquíssimos personagens da cena política atual que não está pensando exclusivamente em si. Eu não sou idiota, muito menos puxa-saco para não reconhecer que ela está em última análise pensando em si, mas como ela está prestes a permanecer no governo até o final de seu mandato, coisa que nove entre dez consultados jamais faria, isso significa que ela pensa em si de uma maneira diferente dos demais. O eu pra ela, neste caso, é quase um nós, é a tentativa de garantir a eleição de Luís Fernando ao governo, mesmo que para isso tenha que abrir mão de uma eleição certa para o Senado.

Arnaldo pensa em si quando coloca como meta ser governador por nove meses acima dos interesses verbais conjugados na primeira pessoa do plural, nós, arriscando-se a acabar por conjugar os verbos na terceira pessoa do plural, eles.

Aqueles que cercam Roseana querem que ela permaneça no governo até dezembro. Isso é melhor para estes. Eles pensam individualmente conjugando o eu, e em um grupo muito restrito, o nós. Eles.

Alguns do que rodeiam Arnaldo querem que ele não contemporize, pois se Arnaldo assumir o governo pelo prazo de uma gestação, a vida, a reeleição deles fica mais fácil. Eles, por seu lado, pensam individualmente conjugando o seu eu e em um grupo também restrito, o nós deles.

Sarney e algumas pessoas muito ligadas a ele sabem que não sendo mais candidato ao Senado pelo Amapá, precisam ter uma voz que os represente na câmara alta do Congresso Nacional. Querem que Roseana deixe o governo até 4 de abril. Pensam em si. Este é o seu eu.

Os possíveis candidatos ao Senado deste grupo, Gastão Vieira e Edson Lobão Filho, pensando em si, querem que Roseana permaneça no governo até o fim de seu mandato, só assim podem sonhar em uma candidatura.

Para o adversário de Luís Fernando, Flavio Dino, poderia ser indiferente. Ele deve estar preparado para competir contra qualquer um, sob qualquer circunstância, mas com toda certeza ele tem sua preferência. É lógico que ele não é diferente dos outros. Ele pensa em si antes de qualquer coisa. No que é melhor para ele, no eu dele.

Os adversários ao Senado querem que Roseana fique no governo, pois sabem que vencer dela é mais difícil que de outros. Pensarão em si e em ninguém mais.

Existem até alguns políticos, Manoel Ribeiro e Hélio Soares, que reivindicam a candidatura ao Senado. Essa espécie de verdade é a mais fácil de desmistificar. É mentira. Jogo de cena da pior qualidade. Frágil como uma pétala de rosa e nem tem seu agradável perfume.

Qual dos três caminhos indicados acima você trilhará para descobrir qual é a verdade que há nas palavras, nas ideias contidas neste discurso político dos tempos correntes?

Qual é a verdade de tudo isso?

A minha é a seguinte. Estamos indo por um caminho difícil. As alternativas de um lado e de outro, não dão margem para manobra e quem conhece um pouco de política e de baliza sabe que não dá para colocar um Dodge Dart ou um Galaxie na vaga de um fusca ou de um Gol. É preciso espaço.

Não é hora para apontar os culpados por estarmos nessa situação. É hora de decidirmos o que fazer, e o que for decidido, que seja feito à risca.

PS: Tenho um texto pronto há semanas falando sobre cinema, sobre o Oscar 2014, mas enquanto a política me entretiver ele vai ficar aguardando.