semanasantaPor Zuleika dos Reis

Sejamos nós cristãos católicos, ask ortodoxos, evangélicos, judeus, islâmicos, budistas, hinduístas, agnósticos, ateus, curvemo-nos todos diante do Mistério, ou da possibilidade do Mistério: o Deus-homem vem ao Mundo e se dá ao Sacrifício, ao Sacro-Ofício, morre em seu corpo de carne como o nosso e ressuscita neste mesmo corpo, para nos dar o Testemunho da Imortalidade.

Lembremo-nos do verso imortal de Fernando Pessoa: “O Mito é o nada que é tudo” e, seja qual for a nossa crença ou o tamanho da nossa descrença, coloquemo-nos todos juntos, em comunhão neste momento de irrupção do Tempo Sagrado no interior do tempo profano. Deixemo-nos tocar, deixemo-nos impregnar. Se a nossa descrença já impregnou todas as coisas, se nos sentimos impermeáveis a toda e a qualquer revelação, a qualquer utopia de cunho sagrado ou humano, ainda assim suspendamos nossos juízos por um instante, para comungarmos a grandeza anunciada nestes dias, a da morte e a da ressurreição do homem-Deus.

Incontáveis de nós estão morrendo nas guerras, nas guerrilhas, nas emboscadas urbanas, nas emboscadas dentro dos próprios lares; incontáveis de nós estão morrendo em cidades e nos campos devastados pela fome e pelas doenças; incontáveis de nós estão morrendo de inanição emocional, em castelos de demasiado precárias muralhas; incontáveis de nós estão morrendo órfãos de nós mesmos, reféns da terrível solidão de não mais nos reconhecermos nos pensamentos e nos atos de cada dia. Há infinitos modos de morrer, de se matar e de matar a nossa morada, a Terra, está infestada por eles.

Por um instante que seja, sintamo-nos um só, unidos através da miséria e da riqueza da nossa condição de seres humanos que seguem carregando a certeza ou a nostalgia do Deus dentro, ao redor e além de toda a nossa infinita pequenez. Sintamo-nos um, com toda a nossa esperança tornada ato, nossa esperança impossível de ser extirpada, semente bendita para sempre, semente sempre-viva replantada, desde todo o Sempre, apesar da legião de mortos no mundo e das injustiças de toda espécie, que vêm se perpetuando ao longo dos milênios.

Blog: de nada adianta o Cristo nascer mil vezes se ele não nasce no coração do homem também. Não adianta o Cristo morrer e ressuscitar se não passamos adiante sua mensagem de paz e amor entre os homens de boa vontade. A Semana Santa e a Páscoa são momentos de reflexão e revisão sobre valores, conceitos e preconceitos. Deixe o Cristo nascer em seu coração. Feliz Páscoa!